segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Crônicas no jardim

São 17:15 e uma tarde de Agosto, o sol já começa a dourar seus raios naquele velho ritual de encerramento do dia. Os devaneios incrédulos do meu pensamento projectam-se no jardim da frente, vejo o tal sorriso escondido entre os galhos da mangueira, ali a rolar na grama os suspiros deleitam-se entre si e os passos do senhor grisalho à direita ditam o ritmo.
Duas moças cochicham e trocam sorrisos com os olhares cheios de esperança e os corações transbordantes de amor, o viço da vida se faz presente.
O clima esfria ligeiramente, e as formigas se apoderam de um resto de maçã que outrora fora deixado ali por algum individuo distraído. A hora passa devagar, e nada de pressa neste fim de tardo no jardim do condomínio.
E nada mais falta, a cena se completa, as moças se despedem, acho que alguém veio buscar uma delas, pois o estrondo de uma buzina se repete incessantemente, o senhor grisalho puxa do bolso uma velha gaita e meio sem graça olha pra mim como se pedisse permissão para toca-la e eu como fã de música, dou aquele velho sorriso ansioso e espero.
Durante uma segundo ou dois lembro de você, bom senhor toca uma velha música, não conheço tal melodia mas percebo que é algo nostálgico e apaixonado. De repente o celular toca. E quem poderia ser a esta hora? E pra minha surpresa é apenas a secretária do dentista cancelando a consulta.
Thádia Eulálio

terça-feira, 5 de agosto de 2008

A ousadia do dia

Olhe a marra com que o sol nasce sem pedir licença
Retirando o véu da noite sem pudor
Pra enrubescer face tua
De vergonha ou de calor

E pelos seus raios de fogo
Que se faz novo dia
A queimar as entranhas desse povo
Que só pede um pouco de alegria


Thádia Eulálio

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Não! Volte, amor


Tudo hoje passa muito rápido, rápido ate demais, não falo só de tecnologia, as noticias são rápidas, os dias são contabilizados, é tudo no horário, mesmo que meio atravessado, atrasando os sonhos, adiantando as angustias, alavancando o medo.
Sei, sei rotina é bom e tem até aquela propaganda da Natura q fala das rotinas e tal, é bonito. O imprevisível é hoje previsto ou é esperado. O que devia simplesmente acontecer fica meio de lado, jogado pra escanteio.
E tudo que se quer enfim é ser, mas ser o quê afinal? Ser o que esperam que você seja? Ser o que você pensa que quer ser? Ser, viver, querer e tudo rima. Sofrer rima também, mas acho que ninguém quer achar o par pra sofrer, ninguém quer sofrer junto, ou separado, ou em grupo ou à luz de velas. Não, definitivamente ninguém quer sofrer, porém se sofre calado, se sofre escandalizado, se sofre no canto, na faculdade, no escuro ou no chuveiro, se sofre dentro do peito e é aí que o sofrer encontra a rima, o par.
Dói, e como dói, ahhh e se sofre pelo time, pela amiga, pela cena da novela ou por aquele trabalho que você se empenhou tanto e que foi por água a baixo, mas o que mais dói é aquele par pra rima, é aquele que você tenta esconder, esquecer... Que coincidência! Olha aí a rima pro sofrer!
Poesia, música, cinema, arte, conversar, gritar, dançar, sorrir, sair, beber, a gente bem que tenta, mas vai e volta o pensamento que por ser muito sem-vergonha inventa de dar aquele flashback bem na hora que você conseguiu fugir daquele aperto que ta no seu coração, e porque justo hoje alguém da sua turma resolveu se encharcar com o perfume dele, o cheiro contamina o ar e sobe aquela saudade, a vontade de estar junto, hum... Como era bom o carinho que ele fazia no seu cabelo e aquele perfume marcou, impregnou, tatuou na parede da sua memória o rosto, o gosto dele.
Não, mas não volte não, eu não quero mais te ver, não quero estragar essa lembrança, apesar da dor, apesar de tudo, deixe que o sofrer ache sua rima, seu par, pois se há amor neste mundo, ainda há esperança, que você sabe rima com lembrança, e essa ninguém pode roubar de mim e quem sabe no fim possa o sonho virar realidade.

Thádia Eulálio.